quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

MATERIAS SOBRE ANGELI 24 HORAS

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/11/ficcao-e-realidade-se-misturam-na-segunda-noite-do-festival-de-brasilia.html
Pop & Arte
Ficção e realidade se misturam na segunda noite do Festival de Brasília
Filho de Glauber Rocha exibiu ficção sobre aposentado no Rio de Janeiro.


A rotina e as obssessões do cartunista Angeli foram tema de curta.
Jamila Tavares Do DF TV
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Cena de "Transeunte", de Eryk Rocha.
(Foto: Divulgação)
Não é novidade que as fronteiras entre ficção e documentário estão cada vez mais tênues no cinema, e os filmes exibidos na segunda noite da mostra competitiva do 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro reforçam essa tendência.
O longa “Transeunte”, de Eryk Rocha, acompanha de perto o renascimento de Expedito, um aposentado que perdeu o gosto de viver. “Ele está sem desejo, sem vontade de se relacionar com o mundo. Me pareceu curioso fazer isso no corpo de um homem velho”, afirmou o diretor em entrevista ao G1.
Filho de Glauber Rocha, Eryk é um premiado documentarista e está estreando na ficção com “Transeunte”, mas sem deixar de lado um forte vínculo com a representação da realidade na tela.
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“Não poderia ter feito esse filme sem ter feitos os documentários antes. A poética do filme incorporou a cidade como pano de fundo - a gente não fechou nenhuma rua, a gente jogava a cena dramática no espaço público. A realidade, o acaso transformou várias cenas que a gente fez. Os atores se misturaram com os transeuntes. É uma ficção amalgamada com o documentário, com o real.”
Os trabalhos como documentarista também influenciaram na escolha por retratar um anônimo, um personagem que começa o filme sem ser protagonista de sua própria vida. Em seus filmes anteriores, Eryk explorou a multidão, o anonimato da massa. “‘Transeunte’ foca em um indivíduo no meio dessa multidão e tem o desejo de entrar no corpo e na cabeça desse homem”, explicou.
Eryk nasceu em Brasília, mas mudou para o Rio de Janeiro com poucos meses de vida. Ele foi premiado com um Candango em 2006 pela montagem do curta “De Glauber para Jirges” e disse estar emocionado com a estreia no FBCB. “É emocionante apresentar um filme que está nascendo na cidade em que nasci. O lugar que a gente nasce diz muito sobre o que a gente é. E o filme fala sobre gestação, sobre nascimento.”

Angeli
Realidade e ficção também se encontraram no curta “Angeli 24 horas”, sobre o cotidiano de um dos cartunistas mais importantes do país. A diretora Beth Formaggini jogou luz sobre a obsessão de Angeli pelo trabalho e sobre o desafio diário que ele se propõe de ultrapassar as fronteiras da cultura pop e se renovar.
O mergulho no universo do criador de personagens icônicos como Rê Bordosa, Bob Cuspe e os Skrotinhos divertiu o público. “Cinema é invenção, é para pensar, para dançar. Agradeço ao Angeli que foi muito generoso e se expôs no filme" afirmou Beth antes da exibição do curta.

O outro curta da noite, “Contagem”, de Gabriel Martins e Maurilio Martins, também questionou os limites do que se convenciona chamar de realidade ao confrontar quatro versões diferentes sobre um fato que abala a tranquilidade do bairro Laguna, na cidade mineira de Contagem.
Na sexta-feira (26) serão exibidos o longa “Os Residentes”, de Tiago Mata Machado, e os curtas “Acercadacana”, de Felipe Peres Calheiros, e “Braxília” de Danyella Proença. A mostra competitiva do Festival de Brasília, que vai distribuir R$ 550 mil em prêmios, segue até o dia 29. Os vencedores serão anunciados no dia 30.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101127/not_imp645876,0.php
Transeunte comove ao falar de velhice
Ficção de Eryk Rocha é autêntica sem ser piegas
27 de novembro de 2010 0h 00

Luiz Zanin Oricchio/ BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
No palco do Cine Brasília, o diretor Eryk Rocha dedicou a sessão a sua mãe, Paula Gaitán, presente na plateia, e ao pai, Glauber Rocha (1939-1981), que foi "apenas" o maior cineasta deste país. Eryk lembrou que ele próprio nasceu em Brasília, enquanto Glauber rodava seu último (e polêmico) filme, Idade da Terra. Com esse DNA, sempre se espera o máximo de Eryk. E esse máximo veio, na forma de um filme que trata de assunto estranho para um rapaz de 32 anos - a velhice -, mas o faz com muita inventividade na forma e, fundamental, com um grande coração. A sessão foi comovente.
Não porque a história de Expedito (Fernando Bezerra) se entregue de imediato ao público, ou busque a emoção da forma mais simples, através da compaixão. Nada disso, o que se busca, na parte inicial, é uma empatia, digamos, sensorial do público com o personagem, um senhor de 65 anos, aposentado e solitário. Valorizam-se, aqui, o silêncio e os ruídos da rua, do prédio em construção que está sendo feito diante do pequeno apartamento de Expedito. A câmera busca o close e, muitas vezes, o superclose, chegando à intimidade das rugas, expondo a ação do tempo sobre o corpo humano, e não apenas o do protagonista. O registro, aqui, é depressivo, reforçado pela opção fotográfica do preto e branco. A fotografia de Miguel Vassy, aliás, é deslumbrante. Não apenas pela textura, mas pelos enquadramentos e movimentos de câmera. Não se vê um único plano banal. "Tratava-se de buscar a pele, não apenas a dos personagens, mas da cidade", diz Eryk.
Na segunda parte do filme, o que temos é uma lenta e tocante volta à vida do personagem. As necessidades do corpo e da alma se impõem sobre o luto; a música, o futebol, o sexo e, mesmo a alegria, forçam entrada na cinzenta existência de Expedito. O admirável é que nada disso é colocado de maneira boboca, como nesses filmes piegas sobre a terceira idade que de vez em quando o cinema comercial despeja no circuito. Já se disse que filme de velho é praga de bilheteria. Mas já se descobriu também um mercado cativo para produções apaziguantes sobre "a melhor idade".
Nada dessa atitude falsamente piedosa e demagógica enfraquece Transeunte. Ele é, acima de tudo, autêntico, em seu tom documental. A velhice é a velhice e não há nada a fazer - mesmo porque todo mundo fica velho, a não ser que morra jovem. Faz parte da trajetória humana, quando esta é completa. Buscar a sobrevivência, e mesmo a felicidade, nessa situação de naufrágio progressivo, é onde reside toda a arte de viver. Esse impulso vital, no fundo, é o que capta o filme através do personagem de Expedito. Transeunte trabalha numa fronteira muito instável entre o documentário e a ficção. Tem seu personagem ficcional, Expedito, que se move num Rio de Janeiro muito "documental", com suas ruas, suas gentes, sua música. Pode-se palpar e sentir o pulso da vida real, da cidade e seus ritmos. Eryk vem de três experiências documentais - Rocha Que Voa, Intervalo Clandestino e Pachamama - e faz, com Transeunte seu primeiro longa de ficção. Mas, como dizia Godard, todo grande filme de ficção tende ao documentário e todo grande documentário tende à ficção. É isso.

Curtas. Angeli 24 Horas, de Beth Formaggini, conquistou o público de Brasília. Não apenas porque seu personagem é uma figuraça, o cartunista Angeli, mas porque o processo de construção do curta reproduz o frenético ritmo mental do artista. Angeli é visto no processo de feitura do seu cartum político diário para o jornal do dia seguinte. Nos intervalos, é entrevistado, evoca suas raízes (rapaz de classe média baixa, família de imigrantes italianos, garoto paulistano da Casa Verde) e seu processo de trabalho. É um intelectual punk e de alma proletária, esse criador de tipos como a Re Bordosa, os Scrotinhos e Bob Cuspe. Um tipo que "mata" suas criaturas quando essas passam a ser assimiladas pelo público. Esse furor rock"n"roll da mente de Angeli é captado na linguagem do filme, muito, muito bom de Beth Formaggini.
Contagem, de Gabriel Martins e Maurílio Martins, procura narrar, de forma circular, as desavenças amorosas de quatro personagens, que termina de maneira trágica. O filme tem qualidades, mas os diretores, iniciantes, ao invés de procurarem simplicidade, optaram por um rebuscamento formal que vai além do seu domínio técnico da linguagem. Passo maior do que a perna.

carmattos.wordpress.com/category/cinema
As asas de Angeli
25 11 2010
Caos, crise, obsessão, poluição, velocidade. É o apocalipse ou um dia na vida de São Paulo? Nada disso, ou talvez um pouco de tudo isso. Estamos falando do mundo do cartunista Angeli. Estamos no coração de um fantástico curta que estreia esta noite no Festival de Brasília. Beth Formaggini vinha me segurando as mãos quase literalmente para que nada quebrasse o ineditismo exigido pelo festival. Pronto, acabou. Já posso escrever sobre Angeli 24 Horas.
Beth não poderia ter sido mais feliz nesta apresentação do personagem Angeli em meio a seus escrotinhos, bananas, rê bordosas, bob cuspes, freaks, políticos xexelentos, cônjuges monstruosos et caterva. O cronista que criou essa épica do vil é ele mesmo um compulsivo, cara de mal dormido, fala e gestos nervosos, como se fosse explodir dentro de 10 segundos e deixar a parede do estúdio coberta de gosma verde.

O filme potencializa essa identificação entre criador e criaturas colhendo a autoanálise de Angeli num estúdio decorado com motivos gráficos, trabalhando muito com a relação entre figura e sombra, e projetando as tiras sobre seu corpo numa espécie de instalação. Além disso, filma pontos-chave de São Paulo em ritmo acelerado e “encontra” nas ruas figuras reais que poderiam ter inspirado personagens de Angeli. Assim é que artista e cidade se fundem pela lógica dos fluxos incessantes. Embora saia pouco da prancheta, Angeli flutua com sua imaginação mórbida, radical e divertidíssima pelos espaços da metrópole, tal como o anjo de Asas do Desejo. Entre seguir em frente e mudar de rumo, Angeli opta pelas duas coisas.
Eixo quebrado entre as várias câmeras que o filmavam, ele fala de suas grandes inspirações; conta como se livrou de seus personagens mais célebres e das propostas de massificação; como encontrou na tragédia familiar do amigo (e muso) Laerte a deixa para uma guinada em sua carreira; por que prefere os diabos aos deuses na hora de riscar o papel. Para cada afirmação ou dúvida, Beth vai localizar a tirinha adequada para fazer a passagem entre pensamento e obra, movimento e resultado. Como eixo central e justificativa do título, Angeli vai preparando a charge que sairá no dia seguinte num jornal paulista.
Outro elemento fundamental para a incrível coesão artística do filme é a trilha sonora heavy e aliciante de JR Tostoi (do grupo Vulgue Tostoi). Num de seus melhores momentos, a música sampleia a voz de Angeli numa batida persistente e sublinha a evidência de que tudo nesse filme emana da pulsação de seu personagem. Não são muitos os perfis de artista com esse grau de coerência
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http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/837453-festival-de-brasilia-exibe-curtas-sobre-angeli-e-poeta-brasiliense.shtml
28/11/2010 - 17h04
Festival de Brasília exibe curtas sobre Angeli e poeta brasiliense
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ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Um cartunista obsessivo e um poeta que transformou a arquitetura retilínea em verso foram parar na tela do cine Brasília.
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Os curtas-metragens "Angeli 24 Horas", de Beth Formaggini, e "Braxília", de Danyella Proença, selecionados para a mostra competitiva do Festival de Brasília, levam o espectador aos recantos escondidos da criação artística.
Ambos os filmes usam a criação de seus personagens como fio condutor da narrativa.
Divulgação

Cena do curta "Angeli 24 Horas", que retrata o cartunista que criou a personagem Rê Bordosa, entre outros
Em "Angeli", temos o cartum da Rê Bordosa e as histórias dos escrotinhos a cobrir a fala acelerada do chargista de tipos urbanos e marginais.
O artista obcecado pela criação, que balança a perna ao ritmo do traços que rabisca, explica o que o move e também o que o paralisa.
"Braxília", por sua vez, é todo alinhavado pelos versos do poeta Nicolas Behr, que, na solidão das superquadras, foi criando poemas como "Entre Quadras":
SQS415F303
SQN303F415
NQS403F315
QQQ313F405
SSS305F413
seria isso
um poema
sobre brasília?
seria um poema?
seria brasília
Ao contrário de Angeli, Behr, "revoltado" na juventude, surge hoje mais sereno --apesar de manter intacta a ironia.
Tanto Beth Formaggini quanto Danyella Proença se mostram mais interessadas em explorar os personagens do que as possibilidades do cinema.
Mas isso, no caso dos documentários, pode ser mais mérito que defeito.

www.fac.unb.br/campusonline/cultura/item/625-homens-em-crise - Cached

Sexta, 26 de novembro de 2010 01:32
No documentário e na ficção, eles tentam se encontrar
Escrito por Rodrigues Alves e Lucas Marchesini
De um lado, um cartunista famoso busca conciliar a produção diária de tirinhas populares com o desejo de fazer uma obra mais radical.
Do outro, um aposentando solitário procura, pelas ruas do centro do Rio de Janeiro, um sentido para a vida. No terceiro dia do Festival de Brasília, o público serviu de divã para os protagonistas de duas produções exibidas no Cine Brasília.

Angeli 24 horas fez com que muitos se divertissem com o cartunista em crise entre ser pop ou inovador. Opiniões politicamente incorretas levaram a plateia a gargalhas: “Dá para conviver com as drogas, pelo menos eu acho”, disse em uma cena. O curta mesclava depoimentos do Angeli com tirinhas de sua autoria e cenas da cidade e de pessoas de São
Paulo.
Maryna Lacerda

Fernando Bezerra, prêmio de melhor ator?
No longa Transeunte, Eryk Rocha partiu da ideia de filmar a história de um anônimo para estreiar o primeiro longa de ficção (o diretor produziu os documentários Rocha que voa, Intervalo clandestino e Pachamama). No palco disse estar emocionado por voltar a Brasília, cidade onde nasceu, mas nunca morou. “Brasília está guardada em uma memória distante, mas sempre presente”, disse.

O filme de 100 min, com narrativa lenta e poucos diálogos, fez com que alguns abandonassem a sala antes do final. Outros cochilaram durante a sessão. O público presente até o fim, porém, aplaudiu muito.

Após a projeção, Eryk explicou por que escolheu fazer o filme em preto e branco.

O aposentado Expedito é interpretado por Fernando Bezerra, 40 anos de experiência no teatro e 11 filmes. O ator afirmou que mesmo com a vasta experiência, aprendeu coisas novas ao fazer esse longa-metragem. “Foi muito interessante, o Eryk tem uma postura diante do cinema de uma atualidade muito aguda, então, para mim teve muita coisa nova”, acrescentou.


De Minas

O segundo curta da noite foi Contagem, de Gabriel e Maurílio Martins. O filme mescla na narrativa a história de quatro personagens da cidade mineira que dá título à produção, onde os diretores moram. Eles disseram que ainda estão devendo o filme, projeto final do curso de Cinema da dupla.

Apesar de ter sido exibido na mostra de Belo Horizonte de 2010, Gabriel e Maurílio Martins consideram Brasília como a estreia do filme. “Lá foi uma exibição mais privada, era uma cópia digital, então o filme praticamente não foi visto”.

Eles também falaram sobre as influências que tiveram para fazer o filme e a surpresa com o trabalho final de da faculdade ter sido selecionado para o Festival de Brasília.

Nathale Martins

Emoção por estar sob os mesmos holofotes dos mestres

Curtas (e boas)

- O curta Angeli 24 horas foi dedicado a Glauco, cartunista da Folha de S.Paulo morto em março deste ano, amigo de Angeli.

-Outro momento cômico de Angeli foi quando o cartunista explicou que pensou por um tempo em como mataria uma de suas personagens mais famosas, a Rê Bordosa. Sugeriram de AIDS ou overdose, mas Angeli preferiu matá-la do vírus tedius matrimônius.

- Os diretores Gabriel e Maurílio Martins explicaram que, tendo em vista festivais internacionais, produziram o filme com legendas em inglês. O público no Cine Brasília acompanhou Contagem lendo os diálogos da versão em inglês, que recebeu o nome de The Inside.
Dia 26/11, quarto dia do festival:
Nesta sexta-feira, os diretores das produções citadas nesta matéria estarão presentes no debate, às 11h, no Kubitschek Plaza Hotel, Salão Caxambu, com transmissão via Twitter, pelo Campus Online. Na programação, há opções de exibição de filmes, workshop e seminário. Às 20h30, no Cine Brasília, serão exibidos Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros; Braxília, de Danyella Proença; e Os Residentes, de Tiago Mata Machado também com cobertura ao vivo.

Leia também sobre o Festival de Brasília:

imagens nos cinemas noticia noticias trailer tv
http://www.100video.com.br/Portal/Noticias.aspx?NoticiaID=12358
Segundo dia do Festival de Brasília sobe o nível e entusiasma o cinéfilo
por Celso Sabadin em 26/11/2010 às 13:48 festivais e premiações, cinema nacional comente !

Como quase sempre acontece nos eventos de cinema, o segundo dia da mostra competitiva deste Festival de Brasília foi sensivelmente melhor que o primeiro. Tanto nos curtas como no longa metragem.

A noite foi aberta em grande estilo com a exibição do ágil “Angeli 24 Horas”, curta carioca (quase média, pois tem 25 minutos) dirigido por Beth Formaggini. Trata-se de um documentário sobre o cartunista paulista Angeli, suas crises criativas e sua profunda obsessão pelo trabalho. O filme cria uma feliz associação de imagens e idéias relacionando o alucinado processo de criação do cartunista com a nacionalmente famosa velocidade estressante da capital paulista. Há ótimas soluções estéticas para fugir do lugar comum, como a projeção das obras do entrevistado e o cenário misto de luz e traços que emoldura o próprio objeto do filme. Tudo acentuado por uma forte e vibrante trilha sonora, sublinhada pelo som do Cine Brasília, um pouco alto demais, pelo menos para os ouvidos deste senhor que vos escreve.

Na sequência foi exibido o curta mineiro “Contagem”, de Gabriel Martins e Maurilio Martins. A apresentação do filme foi cercada de grande emoção: os jovens realizadores chegaram às lágrimas ao dizer da felicidade deles em subir no famoso palco do Cine Brasília, por onde já passaram os mais importantes cineastas do Brasil. Foi um choro real, ótimo para relembrar, aqui na capital da política, que Cinema é emoção acima de tudo. O filme entrelaça quatro personagens na cidade de Contagem (MG) que viverão uma bem urdida trama de solidão e morte observada por diferentes pontos de vista. Impossível não lembrar de Tarantino.

E a noite foi encerrada com o carioca “Transeunte”, primeiro longa de ficção de Eryk Rocha, filho do famoso Glauber. Impossível não usar o aposto. Mesmo porque a inquietação, o inconformismo e a veia criativa parecem estar no DNA do cineasta. Totalmente rodado num belíssimo preto e branco, “Transeunte” narra o cotidiano de Expedito (Fernando Bezerra, desde já forte candidato ao Candango de melhor Ator), um homem solitário que vive seus primeiros dias de aposentadoria num antigo e pequeno apartamento no centro do Rio de Janeiro.

A câmera de Rocha acompanha Expedito contemplativa, lenta e silenciosamente. O público é convidado a mergulhar no universo deste protagonista que tem um tempo totalmente próprio, isolado do ritmo da cidade grande que, mais que o rodear, o cerca. Contrariamente ao significado de seu próprio nome, Expedito não tem pressa. O filme também não. De sua janela ele observa uma gigantesca, barulhenta e poeirenta obra que resultará em três empreendimentos imobiliários. Ele nem liga. Ou diz não ligar. Caminha longamente pelas ruas ouvindo trechos de conversas alheias, fragmentos de programas populares de rádio e deliciosas músicas de dor de cotovelo que divide com cantores anônimos num pequeno sarau noturno promovido por um acolhedor boteco. Para onde vai Expedito? Para onde vai o filme?
O público que se propuser a viajar na proposta intimista de Eryk será brindado com uma belíssima obra cinematográfica de grandes planos, bela fotografia do franco-uruguaio Miguel Vassy (fotógrafo também de “Waldick, pra Sempre no Meu Coração”) e um nada menos que genial trabalho de trilha sonora (do cearense Fernando Catatau), elemento fundamental dentro da própria dramaturgia do filme.

“Transeunte” é Cinema na verdadeira e maior acepção da palavra.

Celso Sabadin viajou a Brasília a convite da organização do evento.

Veja mais em WWW.festbrasilia.com.br
http://www.dzai.com.br/festivaldebrasilia/blog/festivaldebrasilia?tv_pos_id=71722

Sexta-feira, 26 de novembro de 2010 03:12 pm
Som e imagem

Para realizar as filmagens do curta Angeli 24 horas, Beth Formaggini alugou um set de filmagem, em São Paulo, e criou a projeção que serve como cenário para as entrevistas com o cartunista. "Logo no começo do processo, descobrimos a imensa capacidade narrativa dele. O Angeli não sai do próprio personagem. É uma ator. Então, decidimos dar um palco para ele fazer a performance, como um autorretrato", esclareceu a diretora Beth Formaggini, durante o debate realizado hoje. A música teve um papel importante nesse mergulho na criatividade de Angeli. "Ele desenha ouvindo rock pesado", conta Beth. Para reproduzir a sonoridade de sua obra, ela pesquisou músicas de Jimi Hendrix, Edgar Scandurra e muitos outros, até chegar ao que procurava: as criações do guitarrista Júnior Tolstoi, da banda Volvo Tolstoi, que também acompanha Lenine.

Mariana Moreira - 15h11
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/documentario+sobre+angeli+se+destaca+no+segundo+dia+em+brasilia/n1237840087577.html
Documentário sobre Angeli se destaca no segundo dia em Brasília
Festival teve ainda na competição beleza e lentidão do longa "Transeuntes"
Marco Tomazzoni, enviado a Brasília 26/11/2010 14:12

"Angeli 24 Horas": cartunista narra luta para fugir do óbvio no dia-a-dia
As atenções de quinta-feira no 43º Festival de Brasília estavam voltadas para o longa “Transeuntes”, estreia do diretor Eryk Rocha na ficção, mas quem roubou os holofotes da segunda noite de competição foi o curta documental “Angeli 24 Horas”, de Beth Formaggini. Através de entrevistas e tiras do cartunista, se descobre a obsessão e tensão que Angeli sofre diariamente, em cima da prancheta, para fugir do óbvio e radicalizar cada vez mais seu trabalho.
Foi por isso, garante, que ele aposentou figuras queridas pelo público, como os Skrotinhos e Rê Bordosa. Escrúpulos e cobrança própria, que também o impediram, ao contrário do que aconselhou o amigo Mauricio de Sousa, de lançar bonecos dos personagens. “Não ia me sentir bem. Só se a gente apertasse a Rê Bordosa e ela vomitasse vodca”, sugeriu.

"Transeunte": uma vida vazia no Rio
Veja também:
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Auxiliado por projeções na parede, em uma bela solução visual, Angeli explica tiras, fala de suas influências (mais músicos do que artistas), enaltece Laerte (“olhando ele trabalhar, aprendi a entortar o final de uma história”) e da satisfação de um trabalho bem feito (“às vezes em um pequeno traço e uma palavra, você consegue fazer alguém pensar”). A engajada plateia do festival, que lota o Cine Brasília todas as noites, aplaudiu com força.
“Transeuntes”, de Eryk Rocha, continua a saga do filho de Glauber pelo cinema de autor, para o bem e para o mal, como já havia deixado claro em seus três documentários (“Rocha que Voa”, “Intervalo Clandestino”, “Pachamama”). Ele traz um olhar muito próprio, em preto e branco, para Expedito (Fernando Bezerra), aposentado de 65 anos, viúvo, sem filhos. Basicamente, Expedito vagueia sem rumo pela ruas do Rio de Janeiro, acompanhado por um radinho de pilha.
Consulta médicos, vai em bares, espia obras da janela do prédio, torce pelo Mengão, ouve fragmentos de conversas. Ele só observa, como seus olhos em primeiro plano tratam de explicar desde cedo. O espectador vai junto nessa vida lenta, vazia, quase sem sentido. Nessa mesma velocidade, Expedito – em um belo trabalho de Bezerra, aposta para o prêmio de melhor ator – encontra gosto nas pequenas coisas e segue rumo à redenção.
Produzido por Walter Salles e sua Videofilmes, “Transeuntes” exige bastante paciência, talvez até demais. Realista, quase documental, a câmera é generosa, tem curiosidade e fascinação pelo mundo a sua volta, mergulhado na cultura popular, mas parece preocupada demais com estilo e se revela letárgica. Quem não está preparado para esse ritmo ou desiste (os corredores do cinema, cheios de gente sentada no chão, rapidinho ficaram vazios) ou dorme (era só olhar para os lados e ver a quantidade de gente ressonando nas poltronas).
A grande trilha sonora e música de Fernando Catatau, líder da banda Cidadão Instigado, ajudam a manter a cabeça erguida e a beleza do conjunto, ao chegar no final, compensa. Difícil é aguentar até lá. O público, educado e antenado, aplaudiu em quantidade.

http://www.revistacinetica.com.br/brasilia10dia2.htm
in loco - 43o festival de brasília
Dia 2: O particular universal
por Fábio Andrade
Angeli 24 Horas, de Beth Formaggini (Brasil, 2010)
Contagem, de Gabriel Martins e Maurilio Martins (Brasil, 2010)

Na segunda sessão da competição nacional do 43o Festival de Brasília, a programação reuniu três filmes que misturam registros dissonantes e buscam uma harmonia - quando não uma expressão de personalidade - na promoção desses encontros. Angeli 24 Horas, de Beth Formaggini é um documentário tradicional de depoimentos - no caso, todos do próprio Angeli, cartunista e protagonista do filme - pontuado com imagens em time lapse da cidade de São Paulo, e de pessoas na rua, encarando a câmera - recurso que, conjugado à fala do cartunista, traduz visualmente sua estratégia de pinçar personagens de seu cotidiano na cidade. A opção é o maior sopro de vitalidade no filme que, a rigor, é muito dependente da força das falas do próprio Angeli, e um tanto previsível em sua aderência formal (rock na trilha-sonora, ampliação das tiras do cartunista, registro de um dia de trabalho, etc). Com a sequência de interrupções da filmagem em time lapse, o filme destaca a proximidade em modalidades artísticas que por vezes parecem mais distantes; ele volta a ser percebido como uma tira de quadros em movimento, não muito diferente do movimento da própria história em quadrinhos. Porém, a repetição sistemática e pouco variável da estratégia se arrasta ao longo dos 25 minutos de projeção, perdendo dramaticamente sua força a cada nova reiteração. Angeli 24 Horas acaba apenas como um registro - em certa medida estilizado, mesmo que de maneiras um tanto banais - da fala de seu personagem, e os limites de suas virtudes não são muito mais amplos do que os de uma reportagem de televisão.


http://www.pernambuco.com/divirtase/nota.asp?materia=20101026141852&assunto=99&onde=Viver26/10/2010 14h18 Cinema
Fe
stival de Brasília destaca produção de jovens cineastas

Com o presidente do Brasil então já eleito, a tônica do 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que será realizado de 23 a 30 de novembro, deverá ser a discussão de questões político-culturais que sempre dominaram o evento. “Quem vencer já terá provavelmente sua equipe de ministros evidentemente indicada, favorecendo a discussão das políticas de incentivo para o setor”, aposta o consultor e curador do festival, Fernando Adolfo, lembrando que o mesmo deverá ocorrer em relação ao governo do Distrito Federal, onde também haverá segundo turno da eleição.
Seis filmes de longa e 12 de curta-metragem integram a mostra competitiva em 35mm, enquanto 22 títulos em curta e média-metragens estarão na competição digital. Vencedor da principal categoria em 2008, com FilmeFobia, de Kiko Goifman, Minas Gerais volta a disputar com o longa O céu sobre os ombros, de Sérgio Borges, além de marcar presença também na competição de curtas com Contagem, de Gabriel Martins e Maurilio Martins, e O céu no andar de baixo, de Leonardo Cata Preta. Na mostra digital, o estado será representado por Queda, de Pablo Lobato. Adepto do chamado cinema observacional, o estreante em longa-metragem Sérgio Borges, de 35 anos, leva para Brasília um filme limite entre o documental e a ficção, no qual três personagens reais interpretam a si próprios.

Trata-se de um hare krishna, que também é chefe da torcida organizada Galoucura; um transexual que tem mestrado em letras pela UFMG, mas se prostitui na rua; e um angolano cuja dualidade passa por posições firmes, radicais e polêmicas, ao mesmo tempo em que demonstra muita insegurança. O cineasta vem de uma premiada carreira em festivais nacionais e internacionais, com curtas e médias como Silêncio (diretor estreante em Portugal e melhor fotografia em Santa Catarina) e o coletivo Mira (prêmio aquisição em São Paulo). O mais recente é Perto de casa (melhor filme do público em Porto Alegre).

Durante seis meses, Sérgio Borges pesquisou, ao lado da atriz e produtora Izadora Fernandes, para chegar às personagens marginais de seu primeiro longa-metragem. “O filme tem proximidade com o documental, mas a partir de sua construção de linguagem transcende a realidade. Usa pequenos artifícios, pequenas mentiras, para criar uma verdade maior: uma realidade fílmica, próxima da vida real, porém ficcionalizada”, explica o diretor, que se aproxima de experiências contemporâneas de cineastas como Abbas Kiarostami, Pedro Costa e Jia Zang Ke, que se aproveitam da fricção entre realidade e ficção para compor a obra.
GERAÇÃO DIGITAL

Sérgio Borges filmou O céu sobre os ombros com R$ 150 mil, tendo mais R$ 50 mil para finalizá-lo. Para ele, estrear o primeiro longa em Brasília é motivo de honra. “Brasília é considerado o maior festival brasileiro e também o de maior visibilidade”, comemora o cineasta, cuja origem é a reconhecida Teia Produções Audiovisuais, de Belo Horizonte, que revelou jovens diretores como Helvécio Marins Jr., Clarissa Campolina, Marília Rocha e Pablo Lobato, entre outros.

“Também é interessante o fato de que, este ano, a seleção dos concorrentes aponta para um tipo de olhar e de entrada de uma nova geração de cineastas. É um ano com vários diretores estreantes, jovens ou de até 35 anos. São representantes da geração do cinema digital”, afirma. “Desde o advento das câmeras de vídeo, começamos a filmar e a fazer cinema com elas. Isso de uns 15, 10 anos para cá”, diz, incorporando-se ao grupo, que considera fruto da democratização do acesso ao cinema, ocorrida graças à revolução tecnológica.

“Ficou mais fácil fazer cinema”, considera Sérgio. Ele admite que muitos dos diretores que estão no festival fazem cinema com modo de produção diferente daquele dos anos 1990. “Acho que hoje somos equipes menores, mais reduzidas, que acabam tendo um processo criativo muito mais em torno de uma coisa só do que algo hierarquizado, de departamento de equipe”.

A preocupação com a qualidade técnica, de acordo com o diretor, não pode se sobrepor à necessidade “de falar da vida, do ser humano. Não tinha orçamento de milhões para fazer o filme, então eu adequei a estética dele às minhas possibilidades, mas ainda assim falo de uma maneira forte sobre as coisas. O céu sobre os ombros é um filme que tem muito trabalho – foi um filme de muitos anos – e menos glamour. O que é característica da geração que está chegando, que Brasília irremediavelmente acabou acolhendo”, conclui, orgulhoso, o diretor mineiro.

Sentido histórico

Além de político e polêmico, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na opinião do curador Fernando Adolfo, permanece fiel à própria concepção. “Trata-se de um festival criado por Paulo Emílio Sales Gomes (1916-1977), um dos maiores críticos de cinema brasileiro, e concebido por professores como ele, Nelson Pereira dos Santos e Jean-Claude Bernardet, dentro da Universidade de Brasília (UnB), onde era ministrado o primeiro curso de cinema do Brasil, na década de 1960”, recorda. “Ele tem um conceito e em todas as edições temos procurado manter este sentido histórico”.

Este ano, comemora o curador, os novos diretores voltam a dominar. “Mesmo com a presença de Eryk Rocha (filho de Glauber Rocha, que estreou com o documentário sobre o pai, Rocha que voa) e João Jardim (diretor do elogiado documentário Janela da alma, ao lado de Walter Carvalho), o conceito se mantém, já que estão se lançando na ficção”, ressalta Fernando Adolfo.

O curador contabiliza 150 festivais de cinema no país atualmente, com vertentes próprias. “Brasília fica mais na linha de discussão de linguagens”, aponta. “Por ser um festival histórico, o primeiro do Brasil, acho que Brasília tem como questão de honra e de obrigação privilegiar os jovens diretores que não vão ganhar os recursos das grandes produtoras”, completa Fernando Adolfo.

MOSTRA COMPETITIVA 35MM

Longas

• A alegria, de Felipe Bragança e Marina Meliande (RJ)
• Amor?, de João Jardim (RJ)
• O mar de Mário, de Reginaldo Gontijo e Luiz F. Suffiati (DF)
• O céu sobre os ombros, de Sérgio Borges (MG)
• Transeunte, de Eryk Rocha (RJ)
• Vigias, de Marcelo Lordello (PE)

Curtas

• A mula teimosa e o controle remoto,
de Hélio Villela Nunes (15min, SP)
• Acercadacana, de Felipe Peres Calheiros (19min58, PE)
• Angeli 24 horas, de Beth Formaggini (25min09, RJ)
• Braxília, de Danyella Neves e Silva Proença (16min 30, DF)
• Cachoeira, de Sergio José de Andrade (13min47, AM)
• Café Aurora, de Pablo Pólo (19min, PE)
• Contagem, de Gabriel Martins e Maurilio Martins (18min02, MG)
• Custo zero, de Leonardo Pirovano (12min, RJ)
• Fábula das três avós, de Daniel Turini (17min, SP)
• Falta de ar, de Érico Monnerat
(21min, DF)
• Matinta, de Fernando Segtowick (20min, PA)
• O céu no andar de baixo, Leonardo Cata Preta (14min59, MG)

43º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
De 23 a 30 de novembro
Do Portal Uai
http://www.cineweb.com.br/blogs/post.php?id_blog=1&id_post=56
Celulóide Digital
Brasília olhou o novo e colheu novos caminhos e um descaminho
Por Neusa Barbosa em 02/12/2010
No final, a 43ª edição do Festival de Brasília acabou sem que a grande novidade prometida rolasse. Mas é inegável que se apontaram alguns caminhos – e pelo menos um descaminho.
Um saudável respiro está no longa Transeunte, em que Eryk Rocha experimenta a ficção com muitas idéias na cabeça e muita fé nas imagens. A fotografia em preto-e-branco e a montagem pulsante garantem que nos interessemos pelo tumulto interior do homem em seu primeiro dia de aposentadoria, querendo saber como reinventar sua vida (Fernando Bezerra).
Este foi, para mim, o melhor e o mais inventivo filme da seleção deste ano, que colocou em circulação novos diretores – alguns muito bons, caso não só de Eryk como do mineiro Sérgio Borges, que venceu os troféus de melhor filme e direção com seu sensível docudrama O Céu sobre os Ombros.
Essa fronteira indecisa entre realidade e ficção alimenta a produção mineira, com três personagens verídicos reencenando, não se sabe ao certo com que grau de fidelidade à realidade, elementos de suas vidas. De todo modo, os três têm biografias que desafiam a imaginação e merecem, só por isso, o Prêmio Especial do Júri que levaram como ‘personagens-atores’.
Esteve nestes dois filmes o melhor deste festival. Os dois trabalhos me parecem os mais capazes de frutificar em outros rumos, outras buscas. Bem ao contrário do pretensioso, formalista e vazio Os Residentes, de Tiago Mata Machado – que pareceu mais preocupado em entupir seu filme de referências intelectuais e cinematográficas do que em deixar uma fresta para que o público, qualquer público, pudesse penetrar. Os quatro prêmios ao filme me pareceram um injustificável excesso.
A Alegria, da dupla carioca Felipe Bragança e Marina Meliande, peca, até certo ponto, pela mesma ânsia de querer visitar todas as famílias cinematográficas às quais os diretores se sentem filiados. Não é um filme destituído de qualidades. Mas o peso das referências compromete o ritmo, em prejuízo da organicidade da história mesma.
Amor?, de João Jardim, tem seu ponto forte na forte empatia que alguns de seus atores despertam para histórias de amores violentos. Mas as histórias não têm todas a mesma força e talvez sejam em número excessivo (8) para este formato de documentário que busca amparo na ficção.
O pernambucano Vigias, de Marcelo Lordello, pagou o preço da inexperiência, bem como da falta de dinheiro e de tempo para extrair o filme que procura, a partir de uma sadia tomada de posição de enxergar o ‘andar de baixo’ da sociedade brasileira. Aliás, Pernambuco vem ficando na vanguarda deste cinema de observação social, com foco numa realidade contraditória e não raro, criminosa – como demonstrou o premiado curtametragista Felipe Peres Calheiros, e seu potente Acercadacana, que teve o mérito de apresentar ao país a luta da agricultora dona Francisca contra uma grande empresa para manter o usucapião de meio hectare.
Acercadacana foi uma exceção no panorama dos curtas, na média, fracos este ano. Outras exceções de qualidade foram Angeli 24 Horas, de Beth Formaggini, Braxília, de Danyella Proença (apresentando, com muita propriedade, o poeta Nicolas Behr ao resto do Brasil) e A Mula Teimosa e o Controle Remoto, aula do melhor cinema do diretor Hélio Villela Nunes.
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http://cerradomix.maiscomunidade.com/conteudo/noticias/4063/
O-TRANSEUNTE-SAI-NA-FRENTE-NA-CORRIDA-PELOS-CANDANGOS.pnhtml
O Transeunte sai na frente na corrida pelos Candangos
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Eryk Rocha e a equipe de o Transeunte no Cine Brasília. Um favorito para vários prêmios
A segunda noite do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi marcado pela a apresentação de dois fortes candidatos ao prêmio Candango. O Transeunte, de Erik Rocha, e Angeli 24 horas, de Beth Formaggini. Cada um ao seu modo levou à tela do Cine Brasília a abordagem do universo urbano e da solidão. O primeiro em um belíssimo trabalho de pesquisa do cotidiano do homem comum, o anônimo que toca a sua vida e que compõe a enorme massa das cidades grandes. O segundo em um mergulho na vida do cartunista Angeli, que estrai da metrópole seus personagens e ambientações.

Já na apresentação do filme, quando a equipe de O Transeunte subiu ao palco, Erik demonstrava nervosismo, mas levava consigo a convicção de ter feito um trabalho bem feito. Apresentou toda a equipe e disse que o Cine Brasília era o lugar ideal para o nascimento do seu filme. “Aproveitem a viagem”, aconselhou.

Leia mais sobre o Festival de Cinema no Blog da equipe do Cerrado

E o que se viu a seguir foi exatamente uma viagem. Durante a exibição do filme o público foi capturado de tal forma pelas imagens, que nem a quase falta de diálogo conseguiu tirar a atenção do espectador. “O filme parece ser lento mas na verdade tem uma cadência que rouba nossa atenção”, disse o estudante de arquitetura Joaquim Carvalho. Montagem precisa, fotografia irreparável e uma atuação detalhista do ator Fernando Bezerra, que sem falar, transmitiu toda a carga do cidadão comum. É um trabalho de precisão milimétrica, regulada a cada olhar e amplificada a cada plano. “No teatro você precisa ampliar o sentimento para que todo mundo perceba. No cinema você não precisa fazer isso, porque a câmera vai buscar isso em você”, explicou no fim da sessão. Com esse trabalho Fernando sai à frente na corrida pelo Candango de Melhor Ator.

Destaque também para música, que pontuava o filme com boleros, sambas-canção e músicas de forte apelo popular. No fim da exibição, ainda com os letreiros subindo a tela, o público aplaudia com vigor. “Adorei! Foi o melhor lugar para o nascimento do filme”, disse Erik. “Esse filme tem um ritmo, uma coisa musical e o público entendeu a proposta”, comemorava o diretor entre abraços os dos amigos.

Angeli, também conseguiu boa aceitação na noite de ontem. Com uma proposta interessante de fundir imagens dos quadrinhos do cartunista com o local da entrevista, a diretora obteve um efeito original e fiel ao mundo criado por Angeli. O próprio personagem parece fazer parte dos seus quadrinhos. Ou seria o contrário? A mistura é bem feita e pontuada pelo mau/humor ácido de um dos quadrinistas mais populares do Brasil.

O segundo curta da noite, Contagem, dos mineiros Gabriel e Maurilio Martins, pagou o preço por ficar espremido entre O Transeunte e Angeli. O filme é um trabalho de conclusão de curso e traz consigo as imperfeições de um trabalho de estreia, a começar pela falta de originalidade do roteiro, que utiliza a velha fórmula tarantinesca de contar um fato a partir do ponto de vista de três personagens diferente que se cruzam.


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MACEIÓ, DOMINGO, 28 DE NOVEMBRO DE 2010 ■
cadernos: Livros & Idéias ▪ Maré ▪ Municípios ▪ Religião --!>


CADERNO B

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28 de novembro de 2010 Veja outras notícias desta edição
Brasília vê dinâmica dos personagens urbanos
Angeli 24 Horas abriu 2º dia do festival
RAFHAEL BARBOSA* - Repórter
Brasília, DF –
Com três filmes distintos em forma, porém conectados no interesse em investigar as inquietações e angústias dos personagens urbanos, o segundo dia de competição do 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deu sequência à sua programação na noite da última quinta-feira (25). Coube ao documentário em curta-metragem Angeli 24 Horas a missão de abrir a maratona, que contou ainda com o curta Contagem e com o aguardado Transeunte, longa de estreia de Eryk Rocha na narrativa ficcional.
Dirigido por Beth Formaggini (Nós Somos um Poema), Angeli 24 Horas traz o cartunista de volta à sala escura após Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll e Dossiê Rê Bordosa. O filme se lança no universo do cartunista por um caminho, digamos, mais convencional que seus antecessores, porém nem por isso menos eficiente. Enquanto o diretor César Cabral utiliza a morte de Rê Bordosa (um dos mais cultuados personagens de Angeli) como pretexto para entrar na mente do autor, Formaggini faz o mesmo dando voz ao próprio artista através de uma longa entrevista captada em estúdio. Segundo a diretora, uma maneira de tirá-lo de seu “habitat” para inseri-lo num “universo gráfico”. No cenário, apenas uma mesa, uma cadeira, e ao fundo desenhos que remetem às tirinhas do biografado. Um acerto da ótima direção de arte, que em momento algum se sobrepõe à narrativa.

Na linha tênue entre o banal e o genial
Grande atração da noite, o longa-metragem Transeunte desafiou a paciência do público e colocou muita gente para dormir com sua antinarrativa. Em longuíssimos 120 minutos, o diretor Eryk Rocha (Pachamama) estreia na ficção com um filme extremamente ousado e difícil. Porém, quem conseguiu se manter atento foi brindado com alguns momentos de plena inspiração.
Transeunte acompanha o cotidiano de Expedito (o veterano Fernando Bezerra, em grande atuação), aposentado sexagenário sem família, amigos ou qualquer outro vínculo pessoal ou social. Grosso modo, Eryk coloca sua câmera numa zona pela qual o cinema convencional costuma passar distante. Expedito é tudo aquilo que não se deve, pelo menos segundo os manuais de roteiro, atribuir a um personagem. Faltam-lhe um grande conflito, ações dramáticas e características capazes de cativar o público.
* O jornalista viajou a convite da organização do festival
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Seção : Cinema - 27/11/2010 12:01
Filho de Glauber Rocha apresenta longa-metragem
Eryk Rocha apresenta seu filme Transeunte na 43ª edição do Festival de Brasília, que tem como tema a velhice e a solidão nas grandes cidades

Redação - EM Cultura

O cineasta Eryk Rocha estreia em longa de ficção depois de três experiências com documentários
No palco do Cine Brasília, o diretor Eryk Rocha dedicou a sessão de seu Transeunte à sua mãe, Paula Gaitán, presente na plateia, e ao pai, Glauber Rocha (1939-1981). Eryk lembrou que ele próprio nasceu em Brasília, enquanto Glauber rodava seu último (e polêmico) filme, Idade da Terra. Com esse DNA, sempre se espera o máximo de Eryk. E esse máximo veio na forma de um filme que trata de assunto estranho para um rapaz de 32 anos – a velhice –, mas o faz com muita inventividade na forma e, fundamental, com um grande coração. O filme participa da mostra competitiva de longas da 43ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que vai até dia 30.

A sessão foi comovente. Não porque a história de Expedito (Fernando Bezerra) se entregue de imediato ao público, ou busque a emoção da forma mais simples, por meio da compaixão. Nada disso, o que se busca, na parte inicial, é uma empatia, digamos, sensorial do público com o personagem, um senhor de 65 anos, aposentado e solitário. Valorizam-se, aqui, o silêncio e os ruídos da rua, do prédio em construção que está sendo feito diante do pequeno apartamento de Expedito. A câmera busca o close e, muitas vezes, o superclose, chegando à intimidade das rugas, expondo a ação do tempo sobre o corpo humano, e não apenas o do protagonista. O registro, aqui, é depressivo, reforçado pela opção fotográfica do preto e branco

A fotografia de Miguel Vassy, aliás, é deslumbrante. Não apenas pela textura, mas pelos enquadramentos e movimentos de câmera. Não se vê um único plano banal. “Tratava-se de buscar a pele, não apenas a dos personagens, mas da cidade”, diz Eryk. Na segunda parte do filme, o que temos é uma lenta e tocante volta à vida do personagem. As necessidades do corpo e da alma se impõem sobre o luto; a música, o futebol, o sexo e, mesmo a alegria, forçam entrada na cinzenta existência de Expedito. O admirável é que nada disso é colocado de maneira boboca, como nesses filmes piegas sobre a terceira idade que de vez em quando o cinema comercial despeja no circuito.

Já se disse que filme de velho é praga de bilheteria. Mas já se descobriu também um mercado cativo para produções apaziguantes sobre “a melhor idade”. Nada dessa atitude falsamente piedosa e demagógica enfraquece Transeunte. Ele é, acima de tudo, autêntico em seu tom documental. A velhice é a velhice e não há nada a fazer – mesmo porque todo mundo fica velho, a não ser que morra jovem. Faz parte da trajetória humana, quando esta é completa. Buscar a sobrevivência, e mesmo a felicidade, nessa situação de naufrágio progressivo é onde reside toda a arte de viver.

Esse impulso vital, no fundo, é o que capta o filme pelo personagem de Expedito. Transeunte trabalha numa fronteira muito instável entre o documentário e a ficção. Tem seu personagem ficcional, Expedito, que se move num Rio de Janeiro muito "documental", com suas ruas, suas gentes, sua música. Pode-se palpar e sentir o pulso da vida real, da cidade e seus ritmos. Eryk vem de três experiências documentais – Rocha que voa, Intervalo clandestino e Pachamama – e faz, com Transeunte seu primeiro longa de ficção. Mas, como dizia Godard, todo grande filme de ficção tende ao documentário e todo grande documentário tende à ficção.

INTELECTUAL PUNK Angeli 24 horas, de Beth Formaggini, conquistou o público de Brasília. Não apenas porque seu personagem é uma figuraça, o cartunista Angeli, mas porque o processo de construção do curta reproduz o frenético ritmo mental do artista. Angeli é visto no processo de feitura do seu cartum político diário para o jornal do dia seguinte. Nos intervalos, é entrevistado, evoca suas raízes (rapaz de classe média baixa, família de imigrantes italianos, garoto paulistano da Casa Verde) e seu processo de trabalho. É um intelectual punk e de alma proletária, esse criador de tipos como a Rê Bordosa, os Scrotinhos e Bob Cuspe. Um tipo que “mata” suas criaturas quando essas passam a ser assimiladas pelo público. Esse furor rock’n’roll da mente de Angeli é captado na linguagem do filme, muito, muito bom de Beth Formaggini.

Com fotografia em preto e branco de Miguel Vassy, Transeunte tem como protagonista um senhor solitário de 65 anos